Matilda: Um filme sobre Nicolás II, o último czar russo

A vida do último czar russo e sua família se transformou em uma lenda e faz parte das histórias mais conhecidas da Rússia, especialmente no que diz respeito a sua morte, em Ecaterimburgo, apresentada como um horrível massacre que acabou definitivamente com a dinastia dos czares naquele país. No entanto, pouco se fala da vida de Nicolas, antes de se tornar czar, e isso é precisamente o que nos revela Matilda.

No artigo anterior intitulado O mistério da Grã-Duquesa Anastasia Romanov, contamos um pouco da história dessa família, apesar de forcarmos em Anastasia, mencionamos também o fato de toda a família real ter sido assassinada em Ecaterimburgo, após serem presos na casa de um comerciante por um longo tempo. O czar Nicolás II, sua esposa e seus filhos foram mortos, entre eles o pequeno Aleksei, o herdeiro do trono, terminando assim a dinastia real russa.

A controvérsia sobre o filme

Essa história é bem conhecida na Rússia, ela relata o amor do czar Nicolás II por uma bailarina de nome Matilda Kshesinskaya, com quem teve uma apaixonada relação anos antes de sua coroação e seu casamento com Imperatriz Alejandra Fiódorovna. O filme conta a história de como se conheceram e como o futuro czar ficou cativado pela jovem em um espetáculo de balé que tinha assistido, no qual ela passa por um pequeno incidente no qual seu seio ficou descoberto. Isso chocou a muitos, pois na cultura russa os czares eram considerados quase sagrados, (no caso do czar Nicolás II, de fato é um santo canonizado pela igreja ortodoxa) e expor-lhes a cenas de conteúdo sexualmente explicito era considerado uma grande falta de respeito.

O cinema russo tem evoluído, procurando contar suas próprias histórias e atrair o público acostumado aos tradicionais filmes americanos, no artigo anterior intitulado Todo filme americano tem personagens russos, porque? Mencionamos um desses filmes que procuram dar um novo olhar para o cinema russo, e que estreou em 2017 como uma versão russa dos Vingadores, o filme “Os guardiões”, no qual os russos procuram criar seus próprios heróis, com figuras alusivas ao seu país como o “homem-urso” e outros personagens definitivamente atrelados à cultura russa, sem deixar de lado a farta artilharia e a grande quantidade de aviões e helicópteros que se destacam no filme.

Mas, por que causou polêmica?

As razões são variadas, entre elas, as dos ativistas tradicionais da igreja ortodoxa, aos quais o filme pareceu ofensivo ao contar parte da vida do czar, já que ele foi canonizado pela igreja em 2000, por isso, começaram a fazer protestos em torno de um filme que nem sequer tinham visto ainda. Todavia, situações como esta, em vez de afastar, costumam despertar muito mais a curiosidade do público; dessa forma o filme, durante sua primeira semana em cartaz, superou com folga todas as expectativas em termos de arrecadação de bilheteria.

A estreia oficial foi realizada no teatro Mariinsky em São Petersburgo, no passado mês de outubro 2017, apesar de a vida do zar ter terminado em Ecaterimburgo, como mencionamos no artigo intitulado 7 segredos sobre Ecaterimburgo, uma cidade para conhecer e amar; onde também falamos que nessa cidade fica a casa Ipatiev (que pertencia a um comerciante quando ocorreu o massacre dos Romanov) que a partir do ano de 2003 foi transformada em um templo ortodoxo, onde se pode render culto aos chamados “mártires da família imperial”.

A importância dos czares para a Rússia

Apesar de o sistema de governo russo ter mudado e já não ser uma monarquia, o povo russo (em particular, os fiéis ortodoxos) ainda recorda com muito carinhos dos seus czares e a monarquia, que é lembrada por eles como uma das melhores épocas da Rússia. De fato, no artigo anterior: O Kremlin em Moscou: sede do governo russo, vimos como o principal Kremlin do país alberga memórias e coisas alusivas aos czares como o Palácio das Facetas, onde estão expostos todos os tronos imperiais e a Catedral da Dormição, onde foram coroados todos os czares russos.

Para o povo russo, relembrar os czares e a época áurea da dinastia é bem mais que simplesmente ir a um museu, a uma exposição ou ler uma história em algum livro sobre o tema; para eles se trata de sua identidade como nação, das pessoas que os têm dirigido e os levado a ser o povo que hoje são, amantes da arte, da ciência, da tecnologia e inovação, ou seja, enraizados a sua cultura, mas com o olhar no futuro.

Um pouco mais sobre a história de Matilda

Pode ser que para os russos essa seja uma história muito familiar, mas para aqueles que não são desse país, talvez o nome dessa bailarina não seja conhecido, muito menos o seu papel na história russa e na vida do czar Nicolás II e é precisamente esse problema que o filme solucionar. O amor entre esse casal começou no ano de 1890, durante o espetáculo de balé da formatura de Matilda no Teatro Mariinsky, em São Petersburgo, (mesmo local escolhido para a estreia do filme), onde ela chegou a ser nomeada como a primeira bailarina, um título de honra concedido às melhores companhias de balé.

Foi uma atração mútua imediata, ela chegou a confessar, e a história se passa em um contexto em que a Rússia era um país muito apegado a suas tradições e os ortodoxos eram muito obcecados na defesa de seus costumes e tradições. Sobre a bailarina polaca Mathilde Kschessinskaya, ou simplesmente, “Matilda”, se conta que esteve envolvida sentimentalmente com outros membros da família Romanov, como os duques Andréi Vladímirovich e Sergéi Mijáilovich. No entanto, esses relacionamentos nunca foram comprovados, tampouco foi confirmada a sua relação com Nicolas, o que está claro é que ambos se conheciam e que sentiam uma forte atração mútua, pois isso é atestado em seus escritos.

O que você achou desse tema? Gostaria de ver o filme Matilda, caso fosse exibido em sua cidade?

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